domingo, 2 de março de 2008

Reflexão, melancolia e António Aleixo

A todos os fiéis leitores do nosso blog( serão muitos?), endereço desde já as minhas mais sinceras desculpas pelo tempo de inactividade. Foi um período de exames e de muito esforço cerebral,pelo que, os neurónios não conseguiram conciliar o estudo de matérias com a produção de artigos para o Res Comunii.

Esta foi também uma oportunidade de reflexão para mim, da qual obtenho melhor desempenho nas horas nocturnas, acompanhado da minha amiga melancolia. E quando eu convido a melancolia, a reflexão e António Aleixo para uma reunião, o resultado é um texto profundo. Talvez não tão profundo como os bolsos do presidente de Angola entre outros senhores, mas ainda assim profundo.

A poesia do grande poeta António Aleixo é em grande parte dirigida para a sociedade de inicíos e meados do século XX e para os seus podres, o que me proporciona um misto de divertimento e espanto, não só porque muitas das suas quadras satíricas são piadas subtis fabulosas, mas também porque são aplicáveis à sociedade portuguesa do século XXI. Contudo também escreve sobre a sua vida difícil e sobre a sua amargura,o que emociona. Encontro portanto diversas pontes entre os versos e as opiniões deste artista com as minhas.

Vou começar por uma quadra que tocou-me de forma especial porque faz um retrato idêntico ao meu na forma de ver a minha vida. Não era capaz de exprimir de outra forma o que esta quadra transmite.

"Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia."

António Aleixo



Ultimamente tenho reparado, e sem querer citar nomes, o quão arrogantes e elitistas as pessoas conseguem ser. Pensam que ou por pertencerem a uma classe social superior, ou por deterem um elevado grau de habilitação ou simplesmente pela cor da sua pele, podem pisar, desrespeitar e prejudicar quem quiserem. Esquecem-se que o nível de humanidade(tão raro nos dias que correm) constitui também um factor relevante no carácter e personalidade de um indivíduo. Tenho a impressão que estes eram dos alvos preferidos do poeta algarvio, tão numerosas que são as estrofes dedicadas a este tipo de pessoas.Citarei apenas algumas.

"Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria."



"Porque o mundo me empurrou,
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são."



"Enquanto o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem."



"Quando um "pipi" te falar,
Repara no seu olhar...
Verás que, com tanto brio,
O que é moral, ignora;
tudo o que tem, tem por fora;
por dentro é oco, vazio..."



"Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer."

António Aleixo


Como estudante de ciência política e consequentemente um observador da sociedade, gosto de ler sátiras sociais. António Aleixo retrata muito bem os anos da sua vivência e inconscientemente descreve também a sociedade actual.Vejam lá se não concordam.

"Diz, padre que leis são essas
Que servem p´ra ti somente...
tu confessas toda a gente
E à gente não te confessas...
Diz porque tanto te interessas
Nesses segredos que encobres,
Porque que é que não te descobres
Nos jornais ou num sermão,
Dizendo porque razão
Morre um pobre e não há dobres?"

"Se andas comigo á pancada,
A justiça comprarás...
arranjas um embrulhada,
Que vou preso e tu não vás." ( A justiça continua a favorecer os órgão do Estado ou
figuras com representatividade a nível nacional).

"Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que ás vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!" (Aposto que ao lerem isto,um nome surgiu de imediato).

António Aleixo

Existem muitas outras sobre os mais diversos temas que por motivos de cansaço não serão colocadas.No entanto, espero, num futuro próximo, vir a fazer um post exclusivo da vida e obra de António Aleixo, porque ele merece. Tem sido um grande companheiro da melancolia e refexão que me têm assolado. Para terminar em beleza deixo-vos mais uma quadra.

"Quando os homens se convençam
que a força nada faz,
serão felizes os que pensam
num mundo de amor e paz."

António Aleixo







P.S: Devido ao cansaço, é possivel a existência de certos erros nomedamente de pontuação. Posteriormente, e com a maior brevidade possível, tratarei disso.

P.S 2: António Aleixo não é da minha família. Nem aprecio a sua poesia por ele ter o mesmo apelido que eu. Adoro a sua poesia porque é simplesmente genial.

P.S 3: Se quiserem sugerir algum tema ou tópico a ser abordado no blog, enviem para fred_f_al@hotmail.com.

2 comentários:

Meggy disse...

Um retrato do social, faz-nos ver a nossa realidd, muitas vezes dizemos que não gostamos de alguns autores, porque não nos vemos no quadro que eles pintam. Mas não nos podemos deixar iludir só pela realidade que vemos, temos que compreende-la de outra prespetiva, ou mesmo, prespetivas, pois de outra forma seria dizer que umas são mais correctas que outras.

Quando nos tentamos afirmar, devemos faze-lo sabendo quem somos, e não somos mais ou menos pelo que fazemos, dizemos, pensamos, somos (e esta redundância não é um erro) ou vestimos. (torno a ser redundante) Somos quem somos e não somos melhores que os outros por isso. E vice versa, porque desta mesma forma não podemos deixar que os outros façam de nós inferiores.

É normal (dizendo isto, não significa que concorde, pelo contrário espero que esta forma de agir mude!) os grandes pintores da sociedade, poetas, romancistas, etc. só são reconhecidos mais tarde. Quando a realidade que descrevem já pode ser avaliada com algum distanciamento dos historiadores, pois já não é a realidade actual. Na altura imagino, que os "doutores" ficassem ofendidissimos com a "mosca".

Quanto aos Post Scriptum.

Detectei só falta de alguns espaços. E acho que não deves de forma alguma achar que as pessoas acharam pretencioso (se é que posso usar tal palavra) da tua parte apreciar a poesia de um homónimo. Quando há talento e genialidade há que reconhece-lo e ponto final!

Antes que esgote os caracteres disponiveis, fico-me por aqui.

Post brilhante como sempre !

Keep Going ;)

*

Carol disse...

Realmente é lendo, observando ou ouvindo a obra de grandes Pessoas do passado que nos damos conta que as sociedades evoluem (tecnologia, ciência, conhecimento) mas que a humanidade, as personalidades-base desta e a sua estrutura, permanecem iguais. Os mesmos preconceitos, as mesmas atitudes, o mesmo egoísmo.
De quando em quando algumas pessoas destacam-se, pois se apercebem destas atitudes e procuram mudá-las em si e noutros, através dos seus textos, imagens ou sons.
É graças a elas que o nosso conceito de justiça se aproxima cada vez mais da verdadeira Justiça.

Um post fenomenal.

Boas reflexões :)